A fraqueza adquirida na unidade de terapia intensiva (UTI) frequentemente se desenvolve em pacientes que estão passando por ventilação mecânica invasiva (VM). A mobilização ativa precoce pode mitigar a fraqueza adquirida na UTI, aumentar a sobrevivência e reduzir a incapacidade. Hodgson e colaboradores, em 2022, publicaram na New England Journal of Medicine, um ensaio clínico randomizado, em que dividiram 750 pacientes sob VM adultos na UTI para receber mobilização precoce aumentada (minimização da sedação e fisioterapia diária) ou cuidados usuais (o nível de mobilização que era normalmente fornecido em cada UTI).
O desfecho primário foi o número de dias que os pacientes estavam vivos e fora do hospital em 180 dias após a randomização. Como resultados, os autores tiveram achados interessantes. Não houve diferença nos dias de internação hospitalar. A mediana do número de dias em que os pacientes permaneceram vivos e fora do hospital foi de 143 (intervalo interquartil, 21 a 161) no grupo de mobilização precoce e 145 dias (intervalo interquartil, 51 a 164) no grupo de cuidados habituais (P = 0,62). A duração média (±DP) diária da mobilização ativa foi de 20,8±14,6 minutos e 8,8±9,0 minutos nos dois grupos, respectivamente (diferença, 12,0 minutos por dia; IC de 95%, 10,4 a 13,6). Um total de 77% dos pacientes em ambos os grupos foram capazes de ficar de pé por um intervalo mediano de 3 dias e 5 dias, respectivamente (diferença, -2 dias; IC de 95%, -3,4 a -0,6). No dia 180, a morte ocorreu em 22,5% dos pacientes no grupo de mobilização precoce e em 19,5% daqueles no grupo de tratamento usual (razão de chances, 1,15; IC de 95%, 0,81 a 1,65).
Entre os sobreviventes, a qualidade de vida, as atividades da vida diária, a incapacidade, a função cognitiva e a função psicológica foram semelhantes nos dois grupos. Eventos adversos graves foram relatados em 7 pacientes no grupo de mobilização precoce e em 1 paciente no grupo de tratamento usual. Eventos adversos que foram potencialmente devidos à mobilização (arritmias, pressão arterial alterada e dessaturação) foram relatados em 34 de 371 pacientes (9,2%) no grupo de mobilização precoce e em 15 de 370 pacientes (4,1%) no grupo de tratamento usual (P = 0,005). Como conclusão, os autores relataram que entre adultos submetidos à ventilação mecânica na UTI, um aumento na mobilização ativa precoce não resultou em um número significativamente maior de dias em que os pacientes estavam vivos e fora do hospital do que o nível usual de mobilização na UTI. A intervenção foi associada ao aumento de eventos adversos.
Por: Giulliano Gardenghi
Referência
TEAM Study Investigators and the ANZICS Clinical Trials Group; Hodgson CL, Bailey M, Bellomo R, Brickell K, Broadley T, Buhr H, Gabbe BJ, Gould DW, Harrold M, Higgins AM, Hurford S, Iwashyna TJ, Serpa Neto A, Nichol AD, Presneill JJ, Schaller SJ, Sivasuthan J, Tipping CJ, Webb S, Young PJ. Early Active Mobilization during Mechanical Ventilation in the ICU. N Engl J Med. 2022 Nov 10;387(19):1747-1758. doi: 10.1056/NEJMoa2209083.