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Atualização Essencial nas Diretrizes de Prática Clínica para o Cuidado do Paciente em UTI

As Unidades de Terapia Intensiva (UTI) apresentam um ambiente desafiador para pacientes adultos, onde sintomas como dor, ansiedade, agitação, delirium, imobilidade e distúrbios do sono são comuns e podem impactar significativamente os resultados clínicos.  Nesse contexto, a atualização das diretrizes de prática clínica torna-se crucial para otimizar o manejo desses sintomas e, consequentemente, melhorar a qualidade do cuidado ao paciente crítico.

Recentemente, a Sociedade de Medicina de Cuidados Críticos (SCCM) publicou uma atualização de suas diretrizes de 2018, expandindo o escopo para incluir a ansiedade como um domínio específico e aprofundando as recomendações para agitação/sedação, delirium, imobilidade e distúrbios do sono.  A metodologia empregada na elaboração destas diretrizes seguiu rigorosos padrões de qualidade, utilizando a abordagem GRADE para avaliar a qualidade da evidência e formular recomendações.

Um dos pontos de destaque desta atualização é a ênfase na individualização do tratamento. As diretrizes reconhecem a complexidade do quadro clínico dos pacientes em UTI e a necessidade de considerar as particularidades de cada caso na tomada de decisão terapêutica. Além disso, há um reconhecimento crescente da importância de intervenções não farmacológicas, como a mobilização precoce e estratégias para o manejo da ansiedade, que podem complementar ou, em alguns casos, até mesmo substituir o uso de medicamentos.

No que tange ao manejo da sedação, a atualização das diretrizes sugere o uso de dexmedetomidina em detrimento do propofol em pacientes ventilados mecanicamente, especialmente quando a sedação leve e a redução do delirium são prioridades.  Essa recomendação baseia-se em evidências que demonstram a eficácia da dexmedetomidina na redução da incidência e duração do delirium, além de potenciais benefícios na redução do tempo de internação na UTI.

Apesar dos avanços no entendimento e manejo do delirium, as diretrizes ressaltam a incerteza em relação ao uso rotineiro de antipsicóticos para essa condição.  A heterogeneidade dos estudos e a baixa qualidade da evidência disponível impedem uma recomendação definitiva, reforçando a necessidade de individualizar a decisão terapêutica e considerar os potenciais riscos e benefícios de cada intervenção.

 

No âmbito da imobilidade, as diretrizes recomendam a implementação de programas de mobilização/reabilitação aprimorada em detrimento da mobilização usual.  Essa recomendação é sustentada por evidências que indicam a eficácia da mobilização precoce na prevenção da fraqueza adquirida na UTI e na melhoria dos desfechos funcionais e da qualidade de vida dos pacientes.

A mobilização precoce em pacientes de UTI transcende a simples movimentação do leito. Engloba um espectro de intervenções que visam mitigar as consequências debilitantes da imobilidade prolongada. Estratégias como a mobilização aprimorada, que podem incluir desde o sentar à beira do leito até atividades mais intensas como cicloergometria e deambulação precoce, têm demonstrado eficácia na redução da fraqueza adquirida na UTI. De acordo com o artigo, a mobilização/reabilitação aprimorada, em comparação com a mobilização/reabilitação usual, reduz a proporção de pacientes que desenvolvem fraqueza adquirida na UTI [RR, 0.77; IC95%, 0.64-0.93; redução absoluta do risco (RAR), 9 a menos por 100 pacientes; IC95% 14 a menos a 3 a menos; alta certeza]. Ao facilitar o retorno mais rápido às atividades da vida diária e melhorar a qualidade de vida pós-alta, a mobilização precoce emerge como um componente essencial do cuidado integral ao paciente crítico.

Além disso, as diretrizes abordam o uso de melatonina para melhorar a qualidade do sono em pacientes na UTI, sugerindo sua administração em detrimento da não administração.  Embora a evidência para essa recomendação seja de baixa certeza, a melatonina apresenta-se como uma opção promissora para o manejo dos distúrbios do sono nesse contexto.

Em resumo, a atualização das diretrizes de prática clínica para o manejo de dor, ansiedade, agitação/sedação, delirium, imobilidade e distúrbios do sono em pacientes adultos na UTI representa um avanço significativo no cuidado ao paciente crítico.  As recomendações apresentadas, baseadas em evidências científicas e adaptadas ao contexto clínico complexo da UTI, têm o potencial de otimizar a prática clínica e melhorar os resultados para os pacientes.

Prof. Dr. Giulliano Gardenghi

Coordenador científico da Faculdade CEAFI

 

Referência

Lewis K, Balas MC, Stollings JL, et al. A Focused Update to the Clinical Practice Guidelines for the Prevention and Management of Pain, Anxiety, Agitation/Sedation, Delirium, Immobility, and Sleep Disruption in Adult Patients in the ICU. Crit Care Med. 2025;53(3):e711-e730.

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