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Impacto de uma Dieta de Baixa Caloria e Exercício na Osteoartrite de Quadril

A osteoartrite de quadril (OA) é uma das principais causas de dor e incapacidade em pessoas com mais de 50 anos, afetando significativamente a qualidade de vida. A obesidade é um fator de risco bem estabelecido para o desenvolvimento e progressão da OA, com o excesso de peso aumentando a carga mecânica sobre as articulações. Consequentemente, a perda de peso é amplamente recomendada como parte do tratamento não farmacológico para a OA. No entanto, a forma mais eficaz de abordar a perda de peso neste contexto, e o impacto preciso de diferentes regimes de perda de peso na dor e função da OA, permanecem áreas de pesquisa ativa e debate.

O estudo “Efficacy of a very-low-calorie weight loss diet plus exercise compared with exercise alone on hip osteoarthritis pain: a randomized controlled trial” (ECHO) de Hall et al. (2025) buscou responder a essa questão. Os autores compararam um grupo de intervenção que combinou um programa de exercícios com uma dieta de baixíssima caloria, e um grupo controle que realizou apenas o programa de exercícios. O objetivo primário do estudo era avaliar a diferença na dor de quadril autorrelatada em uma escala de 11 pontos após 6 meses. Os desfechos secundários incluíram medidas mais abrangentes de dor e função, como a pontuação HOOS (Hip Disability and Osteoarthritis Outcome Score), e a avaliação da composição corporal.

O estudo ECHO foi um ECR que recrutou 101 pacientes com 50 anos ou mais, com OA de quadril confirmada por imagem e um IMC de 27 ou superior. Os participantes foram divididos aleatoriamente em dois grupos. O grupo de intervenção (dieta + exercício) seguiu uma dieta de 800 kcal/dia, com menos de 50 g de carboidratos, até perder 10% do peso corporal ou por 23 semanas, seguido por um plano de transição. O grupo controle realizou apenas um programa de exercícios de fortalecimento muscular com a orientação de um fisioterapeuta.

Os resultados do estudo mostraram que o desfecho primário não foi alcançado: não houve diferença estatisticamente significativa na dor autorrelatada na escala de 11 pontos entre os grupos após 6 meses (diferença média de -0,6; IC 95%: -1,5 a 0,3). No entanto, o grupo de intervenção teve uma perda de peso significativamente maior (diferença média de -8,8 kg; IC 95%: -11,1 a -6,4) e apresentou melhorias em vários desfechos secundários. A pontuação HOOS, que avalia a dor, a função física e a qualidade de vida, mostrou melhorias significativas no grupo de dieta + exercício em comparação com o grupo de exercício isolado. Por exemplo, a dor na pontuação HOOS melhorou 18,0 pontos no grupo de intervenção, versus 9,9 pontos no grupo controle. Essas melhorias na pontuação HOOS para dor e função persistiram por 12 meses.

A análise da composição corporal revelou que a dieta de baixíssima caloria foi eficaz na redução da gordura visceral e da massa de gordura corporal total. No entanto, um achado notável, e que gerou um debate significativo, foi a perda de 1,5 kg de massa magra no grupo de dieta + exercício após 6 meses. Embora a perda de peso e a redução da gordura tenham se mantido em menor grau em 12 meses, a perda de massa magra levantou questionamentos sobre o benefício líquido da intervenção.

Os resultados do estudo de Hall et al. são ambíguos. Por um lado, as melhorias significativas em desfechos secundários como a pontuação HOOS, que avaliam a dor e a função de forma mais holística, sugerem que a perda de peso substancial pode ser benéfica para o gerenciamento da OA de quadril. A perda de peso e a redução de gordura, especialmente a visceral, podem ter um papel na diminuição da inflamação sistêmica, que é um componente da fisiopatologia da OA.

Por outro lado, o fato de o desfecho primário – a dor simples e autorrelatada – não ter sido alcançado é uma limitação importante. Em um editorial que acompanhou o estudo, Godziuk e Hawker (2025) levantaram a preocupação de que a perda de massa magra, ou muscular, no grupo de dieta + exercício pode ter neutralizado os benefícios da perda de peso na articulação do quadril. A massa muscular robusta é crucial para a estabilidade e o suporte articular, e a sua perda pode comprometer a função, apesar da redução do peso corporal. Este ponto de vista sugere que a qualidade da perda de peso é tão importante quanto a quantidade, e que dietas extremamente restritivas, mesmo quando combinadas com exercícios, podem não ser a melhor abordagem.

O estudo de Hall et al. (2025) contribui para a compreensão da relação entre perda de peso e OA de quadril, demonstrando que uma dieta de baixíssima caloria combinada com exercício pode levar a melhorias em medidas abrangentes de dor e função, apesar de não atingir o desfecho primário. No entanto, os resultados destacam a complexidade de intervenções de perda de peso, em que a perda de massa muscular pode mitigar os benefícios da redução de peso.

Prof. Dr. Giulliano Gardenghi

Coordenador Científico da Faculdade CEAFI

 

Referências

  • Hall M, et al. Efficacy of a very-low-calorie weight loss diet plus exercise compared with exercise alone on hip osteoarthritis pain: a randomized controlled trial. Ann Intern Med. 2025.
  • Godziuk K, Hawker GA. Understanding the potential net benefit of weight loss in persons with osteoarthritis. Ann Intern Med. 2025.
  • Gever J. Low-Cal Diet Plus Exercise May Help Patients With Hip OA. MedPage Today. August 4, 2025.
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