Resumo da Primeira Diretriz Brasileira de Fisioterapia Cardiovascular na Insuficiência Cardíaca em Fase Ambulatorial.
A insuficiência cardíaca (IC) é uma condição de saúde pública crescente no Brasil, sendo uma das principais causas de hospitalização no país. Para pacientes que vivem com essa condição, a reabilitação cardiovascular é um componente fundamental do tratamento, e o exercício físico, supervisionado por especialistas como fisioterapeutas, é uma parte central desse processo.
Para padronizar e otimizar as intervenções, um painel de especialistas desenvolveu diretrizes de prática clínica com base em evidências científicas dos últimos 15 anos. A seguir, destaco os principais achados e recomendações para o uso do exercício na reabilitação de pacientes com insuficiência cardíaca.
Treinamento Aeróbio: HIIT ou Contínuo?
As diretrizes sugerem que tanto o treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT)** quanto o treinamento contínuo de intensidade moderada (MICT) são opções terapêuticas válidas para pacientes com IC. A evidência encontrada indica que ambas as modalidades são equivalentes No entanto, o estudo apontou que o HIIT supervisionado pode proporcionar melhorias mais significativas no pico de consumo de oxigênio (VO₂pico) e na qualidade de vida dos pacientes. Apesar desses benefícios, a recomendação é classificada como condicional, com baixo nível de evidência.
Treinamento Resistido: A Intensidade Importa
Para o treinamento resistido, o painel de especialistas sugere que a modalidade de intensidade moderada é mais eficaz do que a de baixa intensidade para pacientes com IC de fração de ejeção reduzida (ICFEr) A evidência, embora de nível muito baixo, aponta para melhorias na força muscular e na distância percorrida no teste de caminhada de 6 minutos. A combinação do treinamento de resistência com o aeróbio pode levar a ganhos ainda mais expressivos na aptidão cardiorrespiratória e na força muscular.
Treinamento da Musculatura Inspiratória (TMI)
O TMI é um componente crucial na reabilitação de pacientes com IC. As diretrizes indicam que o TMI de alta intensidade é mais eficaz do que o de baixa intensidade para melhorar a força e a resistência da musculatura inspiratória. Essa recomendação, contudo, é condicional e se baseia em um nível de evidência muito baixo.
Eletroestimulação Neuromuscular (EENM)
A EENM é uma ferramenta com potencial para reabilitar pacientes com fraqueza muscular. O estudo destaca duas recomendações importantes:
A EENM isolada e supervisionada é mais eficaz do que um placebo ou as atividades usuais, podendo melhorar a distância de caminhada e a qualidade de vida relacionada à saúde.
No entanto, a EENM adicionada ao treinamento aeróbio não se mostrou mais eficaz do que o treinamento aeróbio isolado.
As recomendações para EENM são condicionais, com baixo nível de evidência. O estudo ressalta que a EENM é uma opção particularmente viável para pacientes que não conseguem participar de outras modalidades de exercício.
Conclusão
Essas diretrizes fornecem um guia valioso para aprimorar o cuidado e otimizar os resultados de pacientes com insuficiência cardíaca. É importante ressaltar que, apesar de baseadas em evidências, a maioria das recomendações é condicional devido à certeza de evidência variável, variando de muito baixa a baixa. No entanto, elas representam um passo significativo na padronização dos programas de reabilitação cardiovascular e na orientação de fisioterapeutas para oferecer o melhor tratamento possível.
Giulliano Gardenghi | Coordenador científico da Faculdade CEAFI
Referência
Karsten M, Gardenghi G, Arruda ACT, et al. ASSOBRAFIR clinical practice guidelines in cardiovascular physical therapy: Exercise-based interventions in outpatient rehabilitation programs for heart failure. Braz J Phys Ther. 2025;29:101260.