Qual é o melhor método de desmame da ventilação mecânica? Reflexões sobre o FAST Trial
Após mais de cem anos de uso, persiste a incerteza quanto à maneira ideal de desmamar os pacientes da ventilação mecânica invasiva. Antes da extubação, é realizado um teste de respiração espontânea (TRE), com respiração espontânea suportada por pressão (na qual o ventilador compensa a dificuldade de respirar através de um tubo endotraqueal fornecendo 5 a 7 cmH2O durante cada respiração espontânea, por exemplo) ou testes com peça T (nos quais o paciente é desconectado completamente do circuito do ventilador, com oxigênio passando pela ponta do tubo endotraqueal).
Ensaios anteriores sugeriram que o uso de protocolos levou a extubações mais rápidas, mas não havia um método definitivamente superior para prever o sucesso da extubação. Como a respiração com suporte de pressão é amplamente percebida como mais segura (devido aos modos de backup e alarmes do ventilador, possivelmente permitindo o resgate mais rápido de um paciente em falha) e mais conveniente (pode ser realizada com o toque de alguns botões sem perturbar o circuito do ventilador), ela quase suplantou completamente o uso de peças T durante os ensaios de respiração espontânea.
O fast Trial aborda um aspecto muito importante. TRES são realizados convencionalmente uma vez ao dia. Não se sabe se testar mais de uma vez ao dia pode levar a uma liberação mais rápida da ventilação mecânica. O estudo buscou fornecer orientação sobre essas duas questões relacionadas aos métodos de desmame: a ventilação com suporte de pressão ou a peça em T são superiores, e é melhor tentar o TRE uma vez ao dia ou com mais frequência?
Entre 2018 e 2022, pesquisadores liderados pelo Canadian Critical Care Trials Group inscreveram 797 pacientes ventilados mecanicamente em 23 UTIs na América do Norte (recebendo ≤70% FiO2 e PEEP ≤12 cmH2O), sem traqueostomias, randomizando-os para ventilação com suporte de pressão (com 0 a 8 e PEEP ≤5 cmH2O) ou ensaios com peça T, e para triagem uma vez ao dia ou mais frequente para prontidão para TRE. O principal achado do estudo foi: Pacientes randomizados para triagem uma vez ao dia com TRE com suporte de pressão (a estratégia convencional) tiveram o tempo nominalmente mais curto para extubação: uma mediana de 2,0 dias.
Nesse caso, menos foi mais!
Prof. Dr. Giulliano Gardenghi
Coordenador Científico da Faculdade CEAFI
Referência
Burns, K.E.A., Lafrienier-Roula, M., Hill, N.S. et al. Frequency of screening and SBT Technique Trial—North American Weaning Collaboration (FAST-NAWC): an update to the protocol and statistical analysis plan. Trials 24, 626 (2023). https://doi.org/10.1186/s13063-023-07079-5